Leituras de Férias I
No Free Comic Book Day deste ano um dos comics que mais chamou a atenção foi a Previews deste volume de The Stuff of Legends, um novo título da Th3rd World Studios, escrito por Mike Raicht e Brian Smith e desenhado por Charles Paul Wilson III. E não admira.
Passado em 1944, em Brooklyn onde, enquanto o seu pai luta na Europa contra os avanços nazis, uma criança é raptada pelo Boogeyman. Cabe aos seus brinquedos mais leais e corajosos aventurarem-se pelo território conhecido como The Dark (um teritório habitado por brinquedos estragados, rejeitados e rancorosos) para salvarem o rapaz e as suas próprias almas.
Grande parte do interesse que o volume gerou deve-se ao seu aspecto gráfico: 50 páginas de arte num estilo original e belo, onde o aspecto de esboço e o sépia transmitem uma nostalgia pela infância e por uma época passada.
O argumento é interessante: uma história sobre bonecos que ganham vida quando ninguém está a olhar poderia não ser muito original mas o argumento aproveita bem a premissa dando-lhe profundidade e complexidade (mesmo que aqui e ali não se escape a alguns clichés). Gosto particularmente que a transformação dos bonecos varie entre o nosso mundo e The Dark, onde estes não se tornam apenas móveis e falantes mas tornam-se realmente naquilo que são (um urso de peluche torna-se realmente num urso, por exemplo).
Nas várias leituras que se podem fazer do argumento, salta à vista não só o paralelismo com a segunda Guerra Mundial que decorria na altura mas também um paralelismo com a religião cristã. Aqui a criança é apresentada como um deus criador, dando vida aos seus brinquedos através da sua imaginação mas tal como o bíblico, é um deus que não se coíbe de castigar e de permitir o mal. Aos seus brinquedos cabe perceber como continuar a lutar e manter-se fiel a um deus capaz de causar tanto mal às mesmas criaturas a quem dá vida ou então juntar-se à causa de Boogeyman, um nada, um vazio, um demónio livre das regras arbitrárias do criador. No entanto, os objectivos finais de Boogeyman permanecem envoltos em mistério e adivinham-se perversos.
O storyboard está bem conseguido, encaixando bastante informação de modo fluido nestas primeiras 50 páginas. Apenas a transição do prólogo para o primeiro capítulo me pareceu um pouco abrupta: num momento os brinquedos estão a pôr-se a caminho, no outro já estão a meio de uma grande batalha.
Em geral este número é francamente interessante, seja pela arte, seja pela história, a qual levanta várias questões que me farão comprar o segundo número para as ver respondidas. Esta primeira parte, o volume 1, será composta por dois livros de 50 páginas que, se as vendas correrem bem, serão o princípio de uma história mais ampla. E tendo em conta que este número já esgotou e já se encontra em 2ª Edição, parece-me que vamos ter mais um novo universo para seguir com atenção.
Lançamento A SEITA / KINGPIN BOOKS: Fojo
Há 1 semana