domingo, 27 de outubro de 2013

Mud (2013)



Passado num ambiente sulista, Mud (desnecessariamente baptizado de Fuga em Portugal) segue o encontro de 2 rapazes, Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) com Mud (Matthew McConaughey), um fugitivo meio Huckleberry Finn, encalhado numa pequena ilhota, que se procura reunir com o amor da sua vida, Juniper (Reese Witherspoon).

Apesar de Mud dar o nome ao filme, a verdadeira história aqui é a do desenvolver da maturidade em Ellis. Com a história de Mud como catalisador principal, Ellis vai acabar por enfrentar e aprender a lidar com as complexidades e perplexidades do amor e das relações adultas. A partir do confronto entre a atitude geral dos homens que o rodeiam (que parecem acreditar que as mulheres são o inimigo e a causa da queda dos homens) e a crença de Mud (de que as mulheres são seres veneráveis e as redentoras dos homens), Ellis vai construir o seu sentido de masculinidade e maturar a sua atitude em relação às mulheres.

Dirigido por Jeff Nichols (o mesmo do intenso Take Shelter), o filme tem um ritmo lento mas hipnótico e é servido por interpretações soberbas, especialmente no caso de Tye Sheridan, Matthew McConaughey e Reese Witherspoon. Com cerca de 2 horas (talvez um pouquinho longas demais a meio do filme), Mud é um filme a que compensa assistir, pelas personagens bem desenvolvidas, pelas actuações e pelo simbolismo, a nostalgia e sensibilidade com que a história nos é mostrada.


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Orange is The New Black T.1

 

O criador de Weeds tem uma nova série, original do Netflix, mais uma vez baseada numa perversão da classe média-alta branca americana. Baseada no livro homónimo e autobiográfico de Piper Kerman, a série segue a estadia de Piper, uma autodenominada WASP com carreira, noivo e vida estável, numa prisão de baixa segurança por anos antes, numa fase mais rebelde, se ter envolvido numa relação amorosa com uma traficante (também ela a cumprir pena) e numa ocasião ter servido de transporte.


A história de Piper é no entanto apenas uma desculpa, uma chave para a série poder entrar naquele mundo condensado de mulheres de todas as origens, de todas as raças, orientações, personalidades, crimes e passados. Todas representadas com muita humanidade. E é nesse conjunto de tão variadas personagens e das relações que se estabelecem entre elas que a série tem o seu melhor.


Claro que com tantas personagens e histórias paralelas, a série poderia tornar-se demasiado dispersa mas aqui entra o benefício de se passar maioritariamente numa só localização: as histórias de cada personagem entrelaçam-se umas nas outras, porque a vida naquele ambiente funciona quase como um organismo único e complexo: uma alteração numa ponta, acaba sempre por ter efeitos noutra.



A primeira temporada via-a em menos de nada. Entre o fascínio das personagens e das relações entre elas, os momentos cómicos (o episódio da galinha), os momentos brutais (o final da temporada), o genérico ao som da Regina Spektor, cada episódio tem o condão de nunca fazer sentir que dura quase uma hora. Agora aguardo a segunda.

domingo, 20 de outubro de 2013

The Conjuring (2013)


O melhor de The Conjuring (A Evocação) é ser uma história bem contada e bem representada. O filme relata um dos supostos casos reais da carreira de Ed e Lorraine Warren, um notório casal de investigadores do paranormal cujos casos já no passado inspiraram outros filmes de terror (Amityville, The Haunting in Connecticut). Aqui mergulhamos no caso da família Perron, uma família com 5 filhas, que no início dos anos 70 se muda para uma casa amaldiçoada por uma bruxa no século XIX.

A história não é, portanto, nada de muito novo: uma casa infestada por fantasmas e demónios que tentam quebrar e possuir uma família que para lá se mudou. Mas é contada com o ritmo lento de alguns filmes de terror antigos, que favorece mais o medo por tensão do que pelo gore. As personagens são bem desenvolvidas (não só no caso da família bastante verosímil  mas sobretudo o casal de "van Helsings") e a atmosfera criada é muito bem construída, quer na recriação de um ambiente vintage (seja a época em que a acção se passa, seja o tipo de filmes que emula), quer na sugestão de grande tensão a partir de objectos e momentos que à partida seriam desprovidos de motivos para a causar (logo desde a história paralela inicial da boneca possuída).


O grande problema do filme para mim foi no entanto uma das suas virtudes: o casal Warren. As duas personagens estão muito bem construídas e muito bem representadas por Vera Farmiga e Patrick Wilson, de tal modo que seriam personagens que gostaria de continuar a seguir em outros casos. São empáticos, trazem uma aura de sabedoria e experiência no assunto, refreada por um grande sentido de humanismo e compaixão que os impede de se tornarem personagens arrogantes ou frios (o seu interesse vai mais para as pessoas que estão a ajudar do que para a excitação de um caso novo). No entanto têm o mesmo efeito no filme para nós espectadores que tem para uma criança a entrada dos pais no seu quarto escuro. A partir do momento em que tomam conta do caso Perron temos a certeza que tudo vai ficar bem, o medo encolhe-se para os cantos mais escuros e perde importância e um filme de terror a partir do momento em que o medo perde importância, perde grande parte da sua função.

Pesando o bom e o menos bom, no entanto, The Conjuring é um filme bem acima da média do género.





Já que estamos nisto, fica o trailer do meu filme de casa assombrada preferido, talvez mesmo o meu filme de terror no topo da lista (o facto de o ter visto pela primeira vez no TCM, noite dentro e sozinha na casa da avó, pode ter ajudado). É sem dúvida uma entrada merecida no livro dos 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer.

domingo, 13 de outubro de 2013

Gravity (2013)



Este ano Alfonso Cuarón, o realizador mexicano de Y tu Mamá También e de Children of Men, mudou-se para o espaço. Não para realizar um filme de ficção científica mas sim um estonteante e tenso drama de sobrevivência. Uma espécie de 127 Horas intensificado pelas condições de um cenário extremo (extremíssimo) que vagueia entre a claustrofobia e agorofobia.

Sandra Bullock interpreta com muita intensidade mas sem histeria (numa excelente interpretação) o papel de Dra Ryan Stone, uma engenheira médica numa primeira missão espacial quando a destruição de um satélite desencadeia uma núvem de detritos que vai ameaçar várias estações espaciais em órbita e destruir a sua. Sozinha, sem comunicação com a Terra e à deriva no espaço, Stone terá de enfrentar a vertigem da imensidão do vazio, o pânico, a solidão extrema e também a tentação de desistir e entregar-se à serenidade desse mesmo vazio. 

Com ela praticamente apenas temos George Clooney, a interpretar a figura quase paternal do astronauta veterano, uma personagem que inicialmente representa o único ponto de segurança de Stone mas que também ele se perde, obrigando-a a encontrar a coragem e motivação dentro de si própria. Clooney tem uma interpretação adequada mas sem a intensidade de Bullock, talvez por a personagem pecar um pouco por excesso de coolness.


A história é muito simples mas a realização é brilhante. Alfonso Cuarón evita os flashbacks ou os cortes para outros cenários (Houston, por exemplo) que tornariam a história mais densa mas que sem dúvida também diminuiriam a sua intensidade cortando a sensação de vulnerabilidade, solidão e vertigem da situação vivida pela Dra Stone. Mesmo sem o artifício dos flashbacks, o argumento consegue intensificar o extremismo da situação comparando-a primeiro ao vazio emocional que a perda de alguém pode causar e depois aos lugares terrestres mais abismais, ambos perdendo um pouco da sua solidão e negrume por comparação.

Por outro lado, tendo um filme com apensas 1 ou 2 personagens e a grande imensidão do espaço como protagonistas, Cuarón consegue nunca ser enfadonho e mantêm-nos em permanente tensão, quer seja pela espectacularidade da acção quer seja pelas reacções das personagens. Para isso contribui o brilhantismo técnico do filme e dos seus efeitos especiais. O 3D raras vezes foi tão justificado, não tanto para criar uma espectacularidade forçada mas sobretudo para imprimir uma forte sensação de realismo. 

Vi o filme em IMAX. Acho que precisava de rever em 3D normal para perceber se realmente vale a pena a diferença. Continua a ser, pelo menos para mim, extremamente cansativo para a vista: temos de estar permanentemente com a vista bem focada e concentrada ou tudo fica desfocado e com dupla imagem. E continuo a ter o problema de precisar de usar os óculos normais por baixo dos óculos 3D. O som é que é notoriamente melhor. Mas seja como for, em salas normais ou IMAX, este é definitivamente um filme para fazer o esforço e ver em 3D.




domingo, 29 de setembro de 2013

O Outono e o Elvis Costello


Faz dez anos que o Elvis Costello editou um álbum chamado North e desde então não há um Outono em que as primeiras chuvas não me façam ter uma vontade tremenda de ouvir esta música (e de seguida o resto do álbum...):

 

domingo, 4 de agosto de 2013

American Horror Story: Asylum



Se há função que os prémios em geral devem servir é a de sublinhar coisas que merecem ser vistas mas que nos poderiam passar despercebidas. Este mês foram anunciadas as nomeações para os Emmys deste ano e no topo dos nomeados está a segunda temperada desta série, que até agora (apesar de eu até gostar do género) ainda não me tinha atraído. (Talvez a culpa fosse do título, horror americano e ainda por cima televisivo, soa a coisa para ser assim um horror de meia tigela, limpinho e sanitizado.)

Mas agora fiquei com curiosidade. Felizmente a minha curiosidade pode ser satisfeita sem ter de começar pela primeira temporada, já que cada uma é completa e passa-se num cenário e contexto diferente (apesar de vários actores serem comuns mas em papéis diferentes). O todo do plantel de actores é emblemático da respeitabilidade que as produções para TV ganharam em relação às produções cinematográficas e sem dúvida um dos factores positivos da série.

Até agora do que vi, há um caldeirão temático onde cabem demências várias, possessões demoníacas, experiências científicas pouco éticas, assassinos em série, freiras sádicas, freiras masoquístas, preconceitos raciais e sexuais à la anos 60 e até (infelizmente) aliens. E ainda só vi 2 episódios. A ver vamos como seguram as rédeas a tanta animação num só asilo.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

The Place Beyond the Pines (2012)



Um filme sobre as repercussões de uma má decisão na vida de dois homens e das suas famílias. Luke (Ryan Gosling) confrontado com a existência de um filho recém-nascido que desconhecia decide enveredar pelo crime para poder sustentá-lo. Avery (Bradley Cooper) é o polícia inexperiente (e também pai recente) que o vai confrontar num momento trágico e desse confronto vão-se criar estilhaços que vão marcá-lo e mudar a sua vida. Anos depois, na vida dos filhos de ambos, esses estilhaços ainda se vão fazer sentir.
 
Por todo o filme pesa uma potente sensação de destino e tragédia iminente e é esse ambiente de tensão dado quer pela fotografia, quer pela banda sonora, o melhor que o filme tem. Em todas as personagens há um impulso inquieto que as leva a procurar fugir em frente, umas apenas para se encontrarem frente-a-frente com o tal destino trágico que as ameaça, outras conseguido evitá-lo.
 
Esta tensão, esta inquietude levou-me a gostar mais do filme do que aquilo que acho que ele realmente vale. Porque apesar de tudo é um filme com alguns defeitos. Despida do estilo com que foi filmada, a história perde o sentido da verosimilhança, há demasiada ambição nos volteios que o argumento dá, como se o autor se estivesse a esforçar demasiado para criar tragédias, interligações e sobressaltos. A sensação que me deixou é que os personagens agem de determinada maneira não porque a sua lógica intrínseca os guie mas apenas porque são uns joguetes na mão do destino (e são-no, não nas mãos do destino mas nas do argumentista).
 
Outra coisa que me inquieta (e isto já não tem a ver com este filme especificamente) é o papel do Ryan Gosling. Já sabemos que ele é excelente a fazer o papel do tipo calado e misterioso, capaz da maior nobreza de sentimentos (em especial no que toca a mulheres) mas também capaz dos maiores rasgos de violência e criminalidade... mas há-de haver uma altura em que já chega vê-lo a fazer a mesma personagem em filmes diferentes.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Filmes Avulso


Nos últimos tempos tenho visto alguns filmes que não me têm suscitado vontade de escrever mais que umas linhas sobre eles (e não é que não tenha apreciado alguns deles), por isso vou juntá-los a todos num único post.



 Sightseers (2013)

Uma história de amor psicopata num estilo de comédia negra que começa muito bem mas que a partir duma certa altura se começa a arrastar entediantemente. Quando falo em psicopatas, devo acrescentar no entanto que os amantes protagonistas estão mais para um carrossel de esquisitos (ou para os crimes exemplares de Max Aub) do que para Mallory e Mickey Knox.



Iron Man 3 (2013)

Não sendo um grande filme é sem duvida um filme grande (demais). Tirando esse defeito, é um filme proporciona um momento de bom entretenimento que não envergonha ninguém. O Ben Kingsley tem um papel bem castiço.



1001 Filmes: A Festa de Babette (1988)

Um da lista dos 1001 Filmes para ver antes de morrer. Uma história simples filmada de modo melancólico e cândido mas bastante caloroso, apesar do ambiente nórdico. No entanto por falta de tensão e conflito na história, o filme nunca passa de morno para quente.

 

Not Suitable For Children (2012)

Uma oportunidade para ver o "Jason Stackhouse" fora do ambiente vampírico mas ainda dentro da veia cómico-sexual. A premissa podia indicar um desastre (a história do boémio que descobre que vai ficar infértil e em poucos dias decide que quer engravidar alguém e ser pai) mas a comédia acaba por conseguir manter o nível acima da linha. No final, fica uma comédia romântica agradável, contemporânea, descomplexada e liberal mas não ordinária. A componente feminina do filme, Sarah Snook, promete ser uma figura a reter.



Easy A (2010)

Ainda dentro das comédias românticas ligeiras, segue-se outra em que a componente feminina é cinco estrelas, como seria de esperar da sempre carismática Emma Stone. O filme é inspirado na história de A Letra Escarlate, lidando com o impacto da reputação e julgamento social. O melhor do filme (tirando a Emma Stone) são os diálogos cheios de jogos de palavras, tornando o filme numa comédia ligeira mas inteligente.



Evil Dead (2013)

Um remake ou uma sequela? De bom tem o tratamento do gore, sempre de frente, sem desviar o olhar, de mau tem a ausência de terror propriamente dito, isto é, não mete medo (mas também não tem a componente de comédia nojenta do segundo Evil Dead ou do Braindead para compensar). De melhor, talvez a resolução fazer sentido, de péssimo o facto de ser tão previsível e mesmo assim o óbvio levar tanto tempo a desenvolver-se.



World War Z (2013)

Entretenimento sólido, em boa parte por causa dos desempenhos dos actores. O argumento tem uns quantos disparates sem sentido mas no entanto se o filme seguisse o caminho racional a demanda do herói tinha acabado logo na primeira paragem e pronto, acabava-se o filme em menos de meia hora. (Já agora um aparte, vi em 2D e não notei nada que justificasse pagar o extra e suportar a porcaria dos óculos do 3D).







quarta-feira, 3 de julho de 2013

Spring Breakers (2013)




Em 1995 quando Kids, o filme de Larry Clark escrito por Harmony Korine, saiu eu tinha 14 anos. Podem imaginar quão perturbada estava quando acabei de ver o filme. Nunca mais o voltei a ver: desconfio que foi um efeito de choque irrepetível e acredito que haja uma forte probabilidade de hoje se o visse achá-lo sensacionalista e superficial.

Quase 20 anos depois (20 anos... vinte... VINTE anos... até me apetece dizer um palavrão...), Harmony Korine volta a escrever (e desta vez a realizar também) um conto sobre uma geração vazia de valores morais e os seus rituais. 

Quatro universitárias, amigas desde infância, desejosas de se alienarem dos seus dia-a-dias cinzentos, decidem-se a ir em viagem em direcção ao sol da Flórida, numa viagem de Spring Break (no espírito do que no Algarve ou nas praias de Espanha seria uma viagem de finalista). E decidem ir a todo o custo e sem travões. Ou pelo menos duas delas, já uma outra vai meio de arrasto no espírito conformista adolescente da lealdade para com os amigos de sempre (mesmo que entretanto a vida tenha feito com que os amigos de sempre já não tenham muito a ver connosco) e a outra vai no espírito da coisa mas com limites.


Talvez o filme possa ter para uma geração mais nova o mesmo efeito de choque que o Kids teve para mim. Mais que não seja para um público que cresceu com as actrizes protagonistas, até agora mais ligadas a um universo infanto-juvenil. Mas estando fora desse segmento de público, a verdade é que passei a maior parte do filme a pensar "tou velha demais pra esta m***da"!

O filme soube-me a um videoclip entediantemente longo, uma sucessão de cenas de jovens a posarem e mostrarem as mamas em câmara lenta ao som de uma batida sonora qualquer, com diálogos esparsos, repetitivos e em voice-over. As personagens principais foram insuficientemente desenvolvidas para terem credibilidade ou para terem tensão interior. Tudo acontece superficialmente. Talvez essa superficialidade faça parte da mensagem do filme mas a mim Spring Breakers pareceu-me só um exercício de estilo vazio e sensacionalista. E pronto, é por isso que me recuso a voltar a ver o Kids.