domingo, 13 de outubro de 2013

Gravity (2013)



Este ano Alfonso Cuarón, o realizador mexicano de Y tu Mamá También e de Children of Men, mudou-se para o espaço. Não para realizar um filme de ficção científica mas sim um estonteante e tenso drama de sobrevivência. Uma espécie de 127 Horas intensificado pelas condições de um cenário extremo (extremíssimo) que vagueia entre a claustrofobia e agorofobia.

Sandra Bullock interpreta com muita intensidade mas sem histeria (numa excelente interpretação) o papel de Dra Ryan Stone, uma engenheira médica numa primeira missão espacial quando a destruição de um satélite desencadeia uma núvem de detritos que vai ameaçar várias estações espaciais em órbita e destruir a sua. Sozinha, sem comunicação com a Terra e à deriva no espaço, Stone terá de enfrentar a vertigem da imensidão do vazio, o pânico, a solidão extrema e também a tentação de desistir e entregar-se à serenidade desse mesmo vazio. 

Com ela praticamente apenas temos George Clooney, a interpretar a figura quase paternal do astronauta veterano, uma personagem que inicialmente representa o único ponto de segurança de Stone mas que também ele se perde, obrigando-a a encontrar a coragem e motivação dentro de si própria. Clooney tem uma interpretação adequada mas sem a intensidade de Bullock, talvez por a personagem pecar um pouco por excesso de coolness.


A história é muito simples mas a realização é brilhante. Alfonso Cuarón evita os flashbacks ou os cortes para outros cenários (Houston, por exemplo) que tornariam a história mais densa mas que sem dúvida também diminuiriam a sua intensidade cortando a sensação de vulnerabilidade, solidão e vertigem da situação vivida pela Dra Stone. Mesmo sem o artifício dos flashbacks, o argumento consegue intensificar o extremismo da situação comparando-a primeiro ao vazio emocional que a perda de alguém pode causar e depois aos lugares terrestres mais abismais, ambos perdendo um pouco da sua solidão e negrume por comparação.

Por outro lado, tendo um filme com apensas 1 ou 2 personagens e a grande imensidão do espaço como protagonistas, Cuarón consegue nunca ser enfadonho e mantêm-nos em permanente tensão, quer seja pela espectacularidade da acção quer seja pelas reacções das personagens. Para isso contribui o brilhantismo técnico do filme e dos seus efeitos especiais. O 3D raras vezes foi tão justificado, não tanto para criar uma espectacularidade forçada mas sobretudo para imprimir uma forte sensação de realismo. 

Vi o filme em IMAX. Acho que precisava de rever em 3D normal para perceber se realmente vale a pena a diferença. Continua a ser, pelo menos para mim, extremamente cansativo para a vista: temos de estar permanentemente com a vista bem focada e concentrada ou tudo fica desfocado e com dupla imagem. E continuo a ter o problema de precisar de usar os óculos normais por baixo dos óculos 3D. O som é que é notoriamente melhor. Mas seja como for, em salas normais ou IMAX, este é definitivamente um filme para fazer o esforço e ver em 3D.




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