Regressou à Vertigo uma das mais longas séries do Universo DC, uma antologia de horror e fantástico com origem no início dos anos 50, que foi tendo várias encarnações ao longo dos últimos quase 60 anos, mas sempre centrada em redor da casa que lhe dá nome.
A Casa do Mistério, House of Mystery, fica num cemitério, frente a frente à Casa dos Segredos, ao mesmo tempo em Kentucky e no reino do Sonho. E mais que uma casa, é uma entidade viva, em mutação constante, com vontade própria. A partir dos anos 60, Caim, um personagem que mais tarde apareceu várias vezes em The Sandman, tornou-se o caseiro e anfitrião desta misteriosa mansão, apresentando e unificando o seu universo de histórias. Mais tarde, esta tarefa coube brevemente a outros anfitriões, até que em 1987 saíram os últimos títulos directamente ligados a House of Mystery. Até 2009, quando o título regressa, pelas mãos de Matthew Sturges, Bill Willingham e Luca Rossi.
Actualmente Caim não é mais o anfitrião da casa. A série segue a história de Fig Keeler, uma jovem que sempre sonhou com a casa e que um dia vai acabar por encontrá-la, para descobrir que nem todos os que nela entram conseguem sair dela. O anfitrião principal é um jovem bartender, Harry Bailey, ajudado pelos restantes residentes fixos da casa: a dramática Cress, a pirata Ann e o Poeta, que melhor ou pior já se resignaram ao facto de a casa não lhes permitir o regresso às suas origens. Fig pelo contrário ainda terá de aceitar não só que a casa a manterá enquanto precisar dela mas mais que isso, que a casa é o lugar onde ela sempre desejou estar.
Para além destas personagens residentes, outras chegam à casa e ao seu bar, vindas de todos os mundos e realidades e como neste bar todas as bebidas são pagas em histórias, entremeando com a história central, podemos seguir pequenos contos ilustrados por artistas convidados. Temos assim a possibilidade de encontrar pequenas pérolas de artistas como Jill Thompson ou o autor de Wet Moon, Ross Campbell, para além do trabalho do artista residente Luca Rossi que com desenvoltura e elegância se enquadra muito bem nesta secção do universo DC. Outra parte da arte digna de menção e louvor são as capas, sóbrias e muito belas mesmo quando medonhas, da autoria de Esao Andrews.
Em geral esta primeira compilação promete mais do que cumpre. A história central é interessante e segue escorreitamente mas ainda não desenvolveu o suficiente para que o destino das personagens nos crie grande ansiedade, apenas curiosidade. Os contos e alguns pormenores dão o toque de horror com subtileza, sem criarem um ambiente opressivo, puxando mais pelo fascínio mórbido ou pela fantasia do que pela violência ou agressividade. No entanto algumas das histórias precisariam de mais desenvolvimento ou maior relevância.
É uma série a manter debaixo de olho, cheia de potencial mas que ainda não conseguiu desenvolvê-lo em toda a sua plenitude, sobretudo por ainda precisar de afinar o equilíbrio entre o seu carácter de série mensal e o de antologia.