Agora que já se passaram dois fins de semana e um feriado e que eu já tive tempo de ver a quase totalidade das exposições, chega-me a vontade de fazer um balanço do festival. Incompleto talvez, porque ainda falta um outro fim-de-semana (provavelmente aquele que pessoalmente mais me diz respeito): o fim-de-semana do Cosplay, da apresentação do livro Mahou - Na Origem da Magia, meu e do Hugo Teixeira, entre outras coisas.
Panorâmica Geral:
Este ano como sabem o tema do festival é o Humor, tema muito conveniente a
estes tempos a que sobrevivemos. A imagem do festival foi desenhada pelo
autor Filipe Andrade e a opção foi pelo conceito da família que se
mascara de super-heróis usando as cuecas como máscaras. No desenho o
conceito resulta razoavelmente, mercê do trabalho gráfico do Filipe
Andrade que deu um ar verdadeiramente castiço aos personagens (isto
apesar de o cartaz final na globalidade pudesse ter saído mais vistoso e
chamativo) mas no vídeo promocional o conceito estatelou-se ao
comprido, de tal modo que mais vale seguir em frente e nem falar mais do
assunto.Mais uma vez o núcleo central festival está patente no Fórum Luís de Camões, lugar que não sendo perfeito, a mim, desde o início da sua utilização, me parece dos melhores, senão o melhor (os amantes da Fábrica da Cultura que me perdoem) por onde o festival já passou. Pena só que os custos anuais na infra-estutura e carpintaria que o espaço necessita para montar o festival sejam tão elevados.
Em termos de concepção de espaço em geral, este ano houve bastantes melhorias funcionais, em relação aos últimos anos, em especial no piso inferior, havendo para mim apenas uma decisão de resultados muito duvidosos: a transferência do palco para o piso inferior, que é essencialmente um parque de estacionamento, por isso tipicamente com uma péssima acústica (dentro da dinâmica do ressoamento ensurdecedor). Uma decisão positiva na minha opinião foi o fusão do auditório das conferências com o das animações, maximizando o aproveitamento do espaço e trazendo para maior destaque quer uma coisa quer a outra.
Mercê do tema ou de uma certa animação na produção nacional, o público este ano tem aderido ao festival. Depois de um festival cinzento e deprimido no ano passado, sabe bem voltar a ver o estacionamento cheio, as exposições cheias de pessoas de todas as idades e as lojas com razoável quantidade de clientes.
Exposições:
Em
ano de crise diminuíram-se a quantidade de exposições, o que se nota
sobretudo no piso inferior, que este ano não foi utilizado na sua
totalidade. Claro que é bom ter muita variedade de exposições mas
sinceramente este ano parecem-me mais na quantidade certa: para quem
vinha um só dia ao festival era saturante ver todas as exposições de
seguida: a meio do 2º piso surgia com frequência a vontade de dizer “Eh
pá, ainda há mais?!”. Este ano acho que num dia se consegue ver tudo sem
ser cansativo e ainda sobra um bocadinho para convívio, vasculhar as
lojas, comer um gelado ou umas pipocas ou participar numa outra das
actividades extra.No piso de cima, a concepção do espaço continua a pecar um pouco por ser labiríntica e apostar nos becos-sem-saída, de tal modo que agora que escrevo dou conta que falhei certamente uma das exposições, a do Geral e Derradé (felizmente há mais um fim-de-semana). Para além da habitual exposição do Concurso de BD, bastante interessante, cujo prémio maior foi arrecado por Joana Afonso, neste piso pode-se ver a exposição central, dedicada ao tema do festival. Organizada por épocas, desde 1800 até à actualidade, apresenta uma mostra bastante educativa e transversal, com várias colecções fascinantes de originais e uma cenografia simples mas eficaz e interactiva.
Também podemos ver uma exposição sobre Peanuts, a série com Charlie Brown e Snoopy, do falecido Charles Schulz, também muito bem enquadrada em termos históricos, com merchandise interessante (uma colecção de Snoopys vestidos por costureiros conhecidos e designers de moda) mas com alguma pena minha, com poucos originais.
Ainda também uma exposição sobre o autor brasileiro Luís Gê, uma colectiva relacionada com a Sociedade dos Humoristas Portugueses criada em 1911 e o associativismo na altura e na actualidade, uma exposição sobre o trabalho de Carlos Roque, outra comemorativa dos 50 anos da publicação de Astérix na revista Foguetão, uma outra sobre o projecto SOS Aircraft, uma parceria com o Festival Internacional de Banda Desenhada de Lausanne, Suíça, onde vários autores foram chamados a reinterpretar as instruções de segurança dos aviões (nalguns casos com muita graça) e a exposição do livro Há Piores de Geral et Derradé.
O piso de baixo contou este ano com a tal redução de exposições, o que para além de diminuir o cansaço do visitante possibilitou também uma concepção de espaço mais arejada e mais favorável ao convívio.
Neste piso estão presentes várias exposições de autores portuguesas relativas aos prémios de BD deste ano, do ano passado e a algumas edições deste ano. Temos assim, no âmbito dos prémios do ano passado uma sobre o Asteroid Fighters de Rui Lacas (interessante mas pelo menos para mim não foi uma novidade, tendo-a visto ou em Beja ou já aqui na Amadora anteriormente), outra sobre o livro infantil O Homem que Ia Contra as Portas de Richard Câmara e Ana Leonor Tenreiro (interessante no conteúdo e na cenografia), uma exposição sobre o trabalho de Filipe Andrade, desenhador do BRK e de vários comics da Marvel e uma exposição sobre o Tudo sobre os Celibatários de Nelson Martins e Valéry Der-Sarkissian, prémio de Melhor Obra de Autor Português Publicada no Estrangeiro.
Depois, nas novidades editoriais, estão presentes exposições sobre o Under Siege, o primeiro jogo de Playstation português, onde podemos encontrar trabalhos relativos à concepção gráfica do jogo assim como da banda desenhada que acompanha o jogo (que se pode jogar na exposição aliás); Dog Mendonça e Pizzaboy 2 - Apocalipse, de Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa, numa das exposições melhor conseguidas do festival, construída em torno da ideia que um livro de BD vai desde o argumento ao livro final, equilibrando a atenção entre a ideia, a palavra, a imagem e a passagem de umas para as outras, não se focando somente no trabalho gráfico, tal como no ano passado aconteceu com a exposição do livro É de Noite que Faço as Perguntas e por fim uma exposição relativa ao livro O Pequeno Deus Cego do argumentista David Soares e ao trabalho de Pedro Serpa (o seu desenhador), trabalho esse que para mim foi a surpresa do festival (sim, que cada ano há sempre um autor pelo menos que não conhecíamos e que o festival nos apresenta), ficando definitivamente com ele debaixo de olho.
Actividades Extra:
Não
tive oportunidade de participar em muitas. Das apresentações até agora
só tive oportunidade de ir à do Voyager do grupo R’lyeh Dreams. À do Dog
Mendonça e Pizzaboy tive disponibilidade mas o auditório não teve
disponibilidade para mim: estava cheio à pinha, como provavelmente nunca
visto no festival. Muito bom sinal!Os apontamentos musicais foram todos de bradar aos céus, não necessariamente porque fossem maus mas porque não eram adequados a um parque de estacionamento. Pela parte que me toca se tiverem de fazer contenção de custos era aqui que deviam começar.
Dos filmes de animação calhei a ver um. Não sei qual foi mas infelizmente era bastante mau. Espero ter melhor sorte pra próxima.
Este ano há falta de cafetaria própria o festival disponibiliza máquina de café e de comida, o que funcionalmente resulta e para além das já habituais pipocas, este ano há gelados artesanais bem bons! Oh lala!
Publicações:
Este
ano os lançamentos de material estrangeiro estão escassos mas em
contrapartida os lançamentos nacionais parecem fervilhar (até a mim me
aconteceu... :-P). É bom não só para que o mundo da BD nacional não
morra mas também porque creio que esteja a contribuir para o aumento da
afluência ao festival tendo em conta que na globalidade destes lançamentos sinto
um reaproximar despretensioso e sem complexos dos artistas de BD
nacionais ao grande público. Em pormenor irei falar destes lançamentos
num post posterior.
Prémios Nacionais de BD:
É
outro assunto em que não me vou alongar: foram salvos pela atribuição
mais que merecida do Prémio de Melhor Álbum ao precioso livro de Paulo
Monteiro,
O Amor Infinito que te Tenho, que merece todos os parabéns e louvores possíveis.
Pessoalmente:
Este
foi um festival diferente para mim: depois de ter a perspectiva
primeiro de leitora, depois de comerciante, agora juntei-lhe a de
autora. É giro, às vezes um bocadinho intimidante (para mim que sou
tímida e introvertida, pelo menos) mas o que tenho gostado muito ao
longo destes anos é do que essas várias perspectivas me foram
permitindo: conhecer um grupo de pessoas que se foram tornando amigos,
alguns que só encontro nestas ocasiões e ver que todos os anos há mais
uma ou outra excelente adição a este leque. E pronto, pró próximo fim de semana há mais, venham juntar-se a mim e ao Hugo pra dois dedos de conversa, uns desenhos e a apresentação oficial do Mahou - Na Origem da Magia. E depois disso: pró ano, há mais e nós lá estaremos!
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