domingo, 28 de abril de 2013

1001 Filmes: Häxan: Witchcraft Through the Ages (1923)



Nota: Este post foi instigado pelo livro "1001 Movies You Must See Before You Die".


Não posso dizer que tenha uma grande cultura no que toca aos filmes mudos. Talvez seja por isso que a maioria dos que vi até agora me tenha surpreendido pelo grau de sofisticação que já apresentavam. Ou então, com o século que praticamente passou, o tempo foi-se encarregando de deixar só a nata do que se fez na altura (afinal de contas, se hoje em dia com toda a tecnologia existente também se faz muito filme mal amanhado, na altura também os devia haver... esperemos que os mal-amanhados de hoje também vão sendo abafados pelo peso do tempo).

Häxan é um filme mudo dinamarquês que em tom documental se debruça sobre os efeitos e horrores da superstição e fervor religioso que levaram durante séculos à perseguição e morte de supostos feiticeiros e bruxas na Europa. Dividido em 7 capítulos, começa com uma exposição teórica apoiada em gravuras em estilo antigo (uma espécie de powerpoint à moda antiga e a parte menos interessante do filme) e segue em vários capítulos com a história da estadia de um grupo de inquisidores numa aldeia qualquer, onde o filme aproveita não só para demonstrar os métodos usados por estes, os riscos que qualquer pessoa corria de ser acusada (mas em particular as mulheres e destas as mais velhas e solitárias) mas também para recriar em encenações muito ricas e detalhadas, os mitos e superstições associados à bruxaria e à adoração de demónios. Por fim, termina com uma muito actual (na altura) tentativa de explicação à luz da psicanálise de vários fenómenos em tempos associados à bruxaria e possessão.


O resultado é bastante poderoso. As cenas que ilustram o filme têm um dramatismo vibrante e surreal, conseguindo o realizador transmitir um forte sentido de terror ao aproveitar de igual modo o horror do que foi a Inquisição e o horror do sobrenatural. Nesse sentido, não deixa de haver um certo oportunismo: se por um lado o filme pretende passar uma mensagem humanista e iluminista e condenar a ignorância da superstição, por outro lado não tem problemas em mergulhar nessa mesma superstição para criar cenas de forte impacto e mestria técnica, com o claro intuito de impressionar o lado mais susceptível dos seus espectadores. É claramente um caso de "Yo no creo en brujas pero que las hay, hay"...


PS: Podem ver o filme inteiro no tubo e com legendas em protuguês (brasileiro) e tudo...

Sem comentários:

Enviar um comentário