Acabou este fim de semana mais um Festival de BD da Amadora, este ano a comemorar o seu vigésimo aniversário.
Imagem do Festival:
Excelente trabalho do Rui Lacas, este ano a imagem do FIBDA era bastante atractiva e num estilo ao mesmo tempo alternativo e com marcas autorais mas também juvenil, alegre e simpático. A ideia da inclusão do pequeno jogo de criação de personagens no site e a sua posterior utilização na decoração do pavilhão da exposição também foi uma ideia muito interessante e bem sucedida.
Exposições:
Este ano as exposições variaram desde as muito interessantes até às decepcionantes, por variadas razões. A nível cénico talvez não houvesse o fulgor de outros anos (provavelmente por motivos orçamentais) mas a cenografia, que pode de facto dar um outro brilho a uma exposição, não deixa de ser apenas um acessório que pode ser compensado pelas qualidades intrinsecas da exposição em si.
No piso de cima, gostei da exposição sobre o próprio festival, com vários exemplos do que se passou nestes últimos vinte anos aqui e na bd portuguesa em geral. Na parte relativa aos prémios do concurso anual de BD teria achado mais interessantes terem mostrado os 20 primeiros prémios mas compreendo que isso levantasse problemas de espaço e também compreendo o interesse de se mostrar candidaturas de pessoas que na actualidade continuam activas na BD, mesmo que não tenham ganho o prémio na altura. A exposição do Rui Lacas também estava muito interessante e com ideias cénicas que funcionaram bem.
No piso de baixo, gostei batante da exposição de pranchas de Lepage, que impressionou toda a gente pela qualidade dos seus originais; da exposição do livro "Rei", a desconstruir várias pranchas nas suas diversas camadas, permitindo-nos mergulhar no processo criativo do autor António Jorge Gonçalves e da exposição colectiva dedicada à Polónia. Esta última agradou-me pela variedade de estilos e qualidade dos trabalhos apresentados.
As mais decepcionantes para mim foram a exposição dos 50 Anos de Astérix, com uma mostra muito pobre, apenas com alguns artigos de coleccionismo e a exposição "F.E.V.E.R." completamente desenquadrada do resto do festival.
A exposição dos 50 anos de Carreira de Maurício de Sousa tinha pranchas interessantes mas para mim seria uma melhor exposição se estas estivessem acompanhadas de uma cronologia de momentos marcantes. Tanto esta como a do Atérix são exposições relativas a efemérides nas quais se poderia ter puxado mais por esse lado didático, com cronologias e pequenas frases breves e informativas, que dessem um enquadramento mais preciso às pranchas.
Da exposição de manga do Oriente e Ocidente ficou-me a ideia de que poderia estar melhor estruturada, do que assim como estava, com uma sala muito grande e sem cenografia quase, onde as pranchas davam uma sensação de dispersão e escassez e outra sala muito mais pequenina adjacente, cheia de pranchas.
As restantes exposições estavam interessantes. A de Fratini surprrendeu-me pela quantidade de pormenores e textura que estão nos originais e que se perdem no livro em parte devido à opção pelo preto e branco em detrimento do sépia original.
Zona comercial:
Este ano a zona comercial foi a que mais piorou desde o ano passado. Atravancada, diminuída, sem luz suficiente no interior dos stands e depois ainda resolveram aproveitar a geringonça dos autógrafos do ano passado que claramente foi mal arquitectada e que se não queriam deitar fora no mínimo deveriam reciclar: a parte de baixo é alta de mais, a parte de cima é baixa de mais, as duas coisas juntas dão uma abertura diminuta com uns prisioneiros lá dentro e uns visitantes cá fora a baterem com a cabeça no aglomerado.( Vá lá que no segundo dia lhe puseram luz no interior, que na primeira sexta-feira parecia um túmulo.) Assim, não só se diminuiu em muito o espaço para descanso e convívío como em momentos de afluência, os corredores tornaram-se intransitáveis e o ar irrespirável.
Por outro lado, não foi só a zona para visitantes da zona comercial que piorou. O interior dos stands foi reduzido por paredes e pilares grossos, deixou de ter prateleiras e a iluminação escolhida (aqui ainda um defeito herdado do ano anterior) foi ineficiente: por um lado são usados projectores que apenas iluminam parcialmente os stands (o facto de terem paredes pretas ainda piora a fraca iluminação), por outro lado são luzes que aquecem mesmo muito. Faria mais sentido usar por exemplo luzes fluorescentes como se usam nos corredores da exposição, que iluminam melhor sem aquecer tanto.
E mais um ano passou e lá continuou a máquina multibanco à porta da casa de banho, onde ela é menos precisa. Enfim.
Restante programação:
Houve várias actividades interessantes, mas infelizmente não tive oportunidade para ir à maioria delas por estar limitada pela nossa presença com stand na zona comercial. De notar, e felizmente, o peso cada vez maior do cosplay, este ano com dois dias de duração e com o vencedor a ser escolhido para participar no concurso europeu. Os dias de cosplay são sempre o de enchente de jovens, o que anima o festival, faltando agora reflectir cada vez mais o interesse destes jovens também nas exposições e outras actividades.
Site:
A presença do festival na internet precisa ainda de mais alguma atenção e dedicação. O site surge tarde demais, é actualizado lentamente, a versão em inglês surge só na última semana, não há informação biobibliográfica dos autores. Por outro lado, por exemplo, o festival aderiu ao Facebook, o que seria positivo, no entanto nele fez apenas 4 entradas informativas, a última das quais a 14 de Outubro.
Em geral:
Não foi um mau ano de FIBDA, foi um ano interessante, com autores e exposições interessantes. Não foi no entanto também um ano excepcional. Creio que o que começa agora a pesar são os pequenos pormenores organizativos, que passam despercebidos e são perdoados quando ainda impera a inexperiência mas que já causam alguma surpresa quando se fala de uma organização com 20 anos de experiência. Nesse sentido falta não só aprender com os erros de outros anos mas também abrir os olhos e ouvidos aos vários agentes da banda desenhada nacional, tornando-se mais acessíveis ao contacto com estes e passarem a dar-lhes resposta em tempo útil, seja qual for o sentido da resposta. Vinte anos de festival são um feito de louvar e de festejar mas sem perder de vista que este festival poderia e poderá ser ainda mais, chamando para a festa os vários projectos que ao longo do ano animam a banda desenhada nacional, seja os colectivos que editam fanzines, seja as associações que se criam, como por exemplo a FECO, seja os movimentos jovens relacionados com o universo manga e anime. Mas lá está para isso tem de se tornar acessível para comunicar com estes e responder-lhes eficientemente.
Seja como for, para o ano lá estaremos de novo, para comemorar o grande vigésimo primeiro, o grande centésimo da República e a banda desenhada em geral.